As demandas por mais participação e controle social, que voltaram a ganhar força no atual governo federal brasileiro, também estão cada vez mais próximas das empresas privadas, batendo à porta dos territórios onde suas atividades são desenvolvidas.
O comportamento empresarial frente a esses interesses pode causar riscos negativos ou oportunidades às operações e futuros investimentos das organizações. Tudo depende de como os empreendimentos irão lidar com seus stakeholders.
A real legitimação social das operações (Licença Social para Operar – LSO) de um empreendimento depende, fundamentalmente, do nível de confiança de seus diferentes públicos em suas operações.
Essa confiança é consequência, principalmente:
1 – do grau efetivo de participação social ao longo da operação dos empreendimentos;
2 – dos resultados das parcerias que são feitas;
3 – da efetividade social e ambiental das ações mitigadoras e compensatórias dos impactos gerados e daqueles investimentos para desenvolvimento dos territórios, independente do compliance ambiental.
Para muito além das promessas de um futuro melhor
Obter a confiança dos stakeholders nas ações das organizações é fundamental. Se a empresa não solidifica sua imagem positiva junto aos stakeholders do território, não lhe será concedida o benefício da dúvida em situações de crise e frente a imprevistos que coloquem em xeque a atuação das companhias.
Uma vez que as relações com stakeholders sejam marcadas pela desconfiança, o telhado das empresas será permanentemente de vidro frente às pedras arremessadas via tecnologias da informação e mídias digitais. Sua reputação poderá ser arruinada, com sérios reflexos sobre a atratividade de seus investimentos.
A experiência da Ferreira Rocha mostra que a confiança dos stakeholders nas companhias pode ser obtida, basicamente, por meio de duas estratégias:
1ª – uma delas configura-se por “fazer para” os stakeholders, ou seja, encantá-los com a criação de expectativas de um futuro melhor devido a, por exemplo, a implantação de um empreendimento em uma dada região. A técnica está fundamentalmente atrelada à consecução, com mais facilidade, de metas organizacionais de curto prazo, em menos tempo e sem a necessidade de maturação nas relações com esses atores;
2ª – a outra estratégia estabelece relações de cooperação, sob princípios mais democráticos, conferindo voz efetiva aos stakeholders e considerando a participação desses atores nos processos de tomada de decisão empresarial. Isso significa identificar, comunicar, negociar, motivar e formar parcerias estratégicas, levando-se em conta interesses desses atores e a história do território que acumulam. Trata-se de “fazer com”.
Ambas as estratégias podem ser empregadas com sucesso em diferentes estágios de uma dada operação. Muitas vezes, elas são usadas de forma alternada ao longo da vida útil dos empreendimentos.
Mas, a estratégia cooperativa apresenta diversas vantagens em relação à que cria expectativas com promessas, principalmente em médio e longo prazos. Em primeiro lugar porque, na nossa opinião, diversos fatores podem levar à a inviabilização do cumprimento de promessas. Essa situação pode levar à prática inadvertida do social washing, fenômeno caracterizado pela apresentação, na teoria, de ações e condutas empresariais que não são comprovadas na prática.
O não cumprimento das ofertas feitas ameaça a criação de laços de confiança com as comunidades e é determinante para a perda de apoios quando, por exemplo, os benefícios advindos de indenizações individuais começam a minguar. Junto a isso, começam as dificuldades sociais para os próximos passos de licenciamento ambiental, como a geração de custos não previstos e os ataques generalizados à imagem corporativa. |